segunda-feira, março 23

Sinal de alerta

Meus caros e parcos leitores, o texto abaixo foge do perfil do blog, mas é imprescindível passar os olhos.

Carta aberta aos jornalistas do Brasil
19/03/2009 20:54:59

Por Leandro Fortes

No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado Comitê de Imprensa, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha. Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do Comitê de Imprensa, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jo rnalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa.
Nesta carta, contudo, falo somente por mim.
Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalistas, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico – de áudio nunca revelado – envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da Abin e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista CartaCapital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno compr ado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto.
Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera.
Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.
Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes. Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites. Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: “Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta”. Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes? Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescent e cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos?
Apelo, portanto, que as entidades de classe dos jornalistas, em todo o país, tomem uma posição clara sobre essa situação e, como primeiro movimento, cobrem da Câmara dos Deputados e da TV Câmara uma satisfação sobre esse inusitado ato de censura que fere os direitos de expressão de jornalistas e, tão grave quanto, de acesso a informação pública, por parte dos cidadãos. As eventuais disputas editoriais, acirradas aqui e ali, entre os veículos de comunicação brasileiros não pode servir de obstáculo para a exposição pública de nossa indignação conjunta contra essa atitude execrável levada a cabo dentro do Congresso Nacional, com a aquiescência do presidente da Câmara dos Deputados e da diretoria da TV Câmara que, acredito, seja formada por jornalistas.
Sem mais, faço valer aqui minha posição de total defesa do direito de informar e ser informado sem a ingerência de forças do obscurantismo político brasileiro, apoiadas por quem deveria, por dever de ofício, nos defender.

Leandro Fortes Jornalista

Brasília, 19 de março de 2009

Foram enviadas cópias desta carta para Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj); Maurício Azedo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); e Romário Schettino, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF)

quarta-feira, março 18

Lepra


Escrevi aqui no Blog, tempos atrás, sobre minha pendenga com uma empresa junto aos tribunais constituídos. Revelei pouco sobre o causo para não atrapalhar o bom andamento dos trâmites processuais. Agora, a sentença dos senhores de preto e togas é pública, então já posso dar a língua ao vento.
Iniciando pelo fim, logo adianto: quedei na peleia. A briga era contra Os Correios, empresa estatal subordinada ao Ministério das Telecomunicações. Aquela bem conhecida da gente por conta dos caras suando dentro de um uniforme que cachorro vê de longe, e pela aparição de diretores nos telejornais metendo a mão larápia e sebosa no dinheiro dos otários que pagam impostos direto na fonte.
Pois é, a empresa essa perdeu um DVD meu. Quem dera fosse do espetáculo da Bethânia com a Omara Portuando. Esse eu achava rapidinho em qualquer centro de compras. Ela perdeu mesmo foi uma produção em vídeo de trinta minutos que banquei do próprio bolso, há muito currado por taxas e contribuições que vou bater as botas sem ver transformarem-se em benefícios.
Perdeu como? Não sabe, e tão pouco quer saber. Mas nega, nega até o fim. Aceitou despachar a encomenda, cobrou por isso, não entregou, e nega, nega até o fim.
Fiquei fulo mesmo, emputecido, raivoso e ainda mais descrente do que já ando, por ter perdido a causa. Ora, se eu tenho os documentos comprovando a postagem do material na data tal, em tal agência e município, e a empresa por sua vez não possui minha assinatura na papelada atestando o recebimento, como meu requerer pode ser improcedente, como disse a juíza?
Sem pestanejo lhes respondo: simplesmente porque sempre perdemos, e eles sempre ganham. É a ordem natural das coisas por aqui. Eles têm apertos de mãos, assessores, fisiologismos, leis caducas e o nosso voto burro. Parlamentar hoje, por exemplo, é atravessador de verba pública. Juiz? Estrela de televisão. Vide o Gilmar, guardião supremo do Estado de Direito e, segundo a Carta Capital, senhor de universidade prestadora de serviços sem licitação a organismos públicos, e também coronel de metade do Mato Grosso. Se acharem que estou me passando, é só consultar uma hemeroteca, e daí tentar formar opinião.
Mas voltando a vaca gorda, foi por causa dele que perdi minha causa. Foi por culpa do Gilmar. É ele o responsável. Ele, o Renan, o José, o Michel, e mais o PMDB inteiro. Ah, e também o Fernando, agora o bam-bam-bã da comissão de obras do Senado. Justo lá, por onde passa a metade dos lobistas ancorados no cerrado plácido da Esplanada dos Ministérios.
Êta porra! E eu aqui, sem meu documentariozinho que me custou as burras para fazer. Mas Oxalá, tenho fé, alguém ainda há de ser preso. Afinal de contas perderam o meu DVD, ora bolas!
Não obstante, se ninguém entrar em cana logo, largo esse negócio de audiovisual e viro diretor do Senado. Diz que o negócio é bem bom. Dá grana e não precisa fazer quase nada. Só dar uma alisadinha nos escrotos que, apesar de enrugados, são pródigos em foder com quem não faz parte da rodinha.
Posso também abrir uma empresa em Brasília e negociar notas frias. Será uma roldering de muitas empresas: postos de gasolina, restaurantes, gráficas, serviços de transporte. Firmas de segurança, limpeza, instalação de telão e tradução simultânea. E tudo, tudinho mais que a demanda impuser às necessidades. A sede vai ser numa salinha em Planaltina. Vai ter uma escrivaninha com o tampo solto e uns armários grandes, daqueles de latão. Iguais aos das secretarias de escolas públicas. Vão servir só para guardar os blocos de notas fajutas. E é claro, na precaução, na saída dos fundos do cômodo, coloco um incinerador dos quentes.
E não julguem o valor do negócio pela saleta e pelas traças na cola avermelhada dos bloquinhos. Empreendimento assim já nasce respaldado, sim senhor. Com aval e retaguarda de delegado, capitão e coronel. E mais ainda, lá para adiante, se os números forem bons, chega a benção dos congressistas, procuradores, juízes, ministros e generais.
Assim vai ser. Vou ganhar muito dinheiro. Vou ensinar aos meus filhos que em terra de ninguém, cada um, de cepo, arranca o seu quinhão.
Mais dia, menos dia, vou estar na televisão. Homem influente, amigo de barões. Senhor financiador amasiado com os pequenos diabos, varões da lei.
Salve o voto, a democracia, a carta federal. Salve as instituições, e o senhores que por elas nos guardam.