Antes de ontem minha ex-mulher
Disse-me que minha filha estava morta.
Há dois dias morri pela primeira vez.
terça-feira, abril 19
quarta-feira, abril 13
Topadas
Muitas coisas me irritam, aliás, me irrito fácil, diga-se de passagem, mas não sem motivo.
E embora possa parecer loucura, não abro mão da irritação. Ela é o adubo que alimenta meu poder de indignação, ainda que a contra-indicação potencialize uma úlcera perigosa, que no final das contas, cultivo com esmero.
E são as pequenas, e aparentemente tolas coisas do dia a dia, que me tiram do sério. Provavelmente porque as maiores já encheram há muito meu pote.
Mas enfim... Um copo quebrado na hora errada, um pneu furado, um nó no cadarço teimando em desatar - contratempos triviais, insignificâncias, mas donas de sombras gordas.
Como sou assim, irritadiço por natureza, mas não sem motivo, insisto e faço questão de assim deixar claro ao fiel leitor, resolvi a título de catarse escrever sobre as cinco mais.
A princípio a idéia era ranqueá-las. Mas como a tarefa pareceu-me árdua demais por exigir metodologia científica, e eu cá estou muito pouco inclinado a exercê-la, vou restringir-me a explaná-las. O leitor, por cognição e afinidade, fique a vontade para ordená-las, se assim desejar, por ordem hierárquica.
Irrita-me profundamente quando objetos funcionais residentes na casa tornam-se temperamentais e embestam em não funcionar, negando-se a índole de suas serventias justamente na hora mais imprópria.
Voltar para a casa depois de um dia difícil com uma filha de dois anos cansada, por exemplo, sujeita à irritação. Eu louco para dar um banho rápido na guria e depois deitá-la no sofá já com a mamadeira enfiada na boca com Monstros SA na tela, de modo enfim ela relaxar, e aí, o DVD não toca.
Funcionava antes o mentecapto! Rodou ainda hoje sem problema algum. Porém no instante delicado em que um movimento em falso pode desencadear um cataclismo, ele faz o quê? Nega fogo, o puto.
Minha vontade é espancá-lo.
Desejo que ele nunca tivesse sido inventado e que os canais abertos transmitissem como nos velhos e não muito distantes tempos desenhos animados.
Sopra daqui, aperta dali, e nada.
Tapinhas comedidos.
Ejeta, enfia, enfia, ejeta... Rezas, por favores - amores de Deus.
Esfrega CD, esfrega CD. Álcool não! Acetona, acetona – pára, pára, é pior!
Água, água. Algodão e água – limpa.
- Espera, o pai vai conseguir.
Uma lágrima sincera despenca dos meus cílios na esperança da máquina de mau gênio compadecer-se... bem capaz....
Uma bordoada convicta, e o palhaço sem graça, pressentindo a fúria, gira.
Bem em tempo...
Anjos e demônios já se anunciavam por trombetas viajando nas gotas de no suor da testa da Nina, e da minha.
Precisava o merda, fazer isso tudo para começar a trabalhar?
Possesso também me deixa a pia e a torneira quando tiram o dia para me sacanear.
Tô lá eu, todo arrumadinho, prontinho para sair, quase atrasado.
Abro a torneira e, chuá...
A porra da pressão de crista enfezada a mando dos cúmplices jorra a água direto para dentro de um dos quadrados da forma de gelo que dormia junto à boca do ralo.
Vão-se a roupa, o chão limpo, e qualquer chance para o exercício da paciência.
Não conto até dez. Não há tempo - o ataque é subido demais. Só aflora-me o instinto.
Penso na marreta. Por sorte dos conspiradores, e minha, ela não está ao alcance.
Resta-me resignar-me.
Mas há de chegar o dia em que mandarei as favas à ponderação e deixarei a marreta à mão. Aí sim, quero ver onde a porca vai torcer o rabo.
E se pia, torneira e pressão abusam da fanfarronice, o que direi dos prendedores de roupas com tendências suicidas.
Pendurar panos no varal já é uma tarefa hercúlea, ao menos para mim, que já estendi coisas demais, entre elas calcinhas que não mereciam o meu empenho, e que já fiz toda a aeróbica que o labor exige.
Quem já não se embananou tentando dar conta de um lençol de casal que excede o comprimento da abertura dos braços enquanto o chão, dissimuladinho, assobia?
É de foder, convenhamos... Ainda mais se tu não andas fodendo.
E aí, como se não bastassem calcinhas e lençóis sem cheiro e marcas, os prendedores começam a atirar-se para o vazio.
Eu coloco o bicho lá no arame e o desalmado cisma em pular para o precipício. Arrebenta-me por último, o acocar-me para pegá-lo rosnando impropérios, e ele zomba mais uma vez, escondendo-se sob as roupas que estavam sobre o meu ombro, e que, com o movimento abrupto dos joelhos, espalham-se pelo chão.
Nos cascos também fico quando alguma coisa some logo depois de eu tê-la colocado nalgum lugar no intuito de assegurar-me que ela não desapareceria.
A maldita repousava em berço pleno. Eu sabia que ela estava lá, e por conta de não estar no lugar usual, eu resolvo tira-la do seu canto de descanso para ela não sumir. Isso, normalmente, minutos antes de eu ter de pegá-la. Acontece que não a coloco em seu lugar de praxe.
E então o que faz a bandida (?), some sem deixar vestígios.
Não há pegadas, restos de fogueiras teimando em consumir-se em carvão, muito menos um rastreador apache.
Não existe cheiro ou qualquer tipo de rastro. Não há testemunhas ou vibrações de passos. Só a certeza de uma conduta absorta e de uma memória fraca para trivialidades desinteressantes, mas que no final, se subestimadas, causam um baita problema.
Ela não podia evaporar assim, foi o tempo de um banho, caralho!
E me emputece mais ainda, ela ter se escafedido no lapso de minha imprudência e idiotice.
Demônios – raios. E nem o Mutley eu tenho.
Custava eu prestar um pouco mais de atenção?
No final, eu até encontro-a, mas e o batimento cardíaco acelerado pelo sofrimento desnecessário, quem banca?
Fechando a lista, e deixar enfim que o leitor faça as suas devidas ponderações, e se desejar, eleja das circunstâncias a que maior carrega a combustão da ira, mas que por fim, inocenta, releva e absolve a irrascibilidade - ainda que eu pudesse enumerar mais uma penca e tanto de rosetas que volte e meia incitam minha irritação - lhes confesso meu quinto inferno: pisar na merda que eu sabia estar ali e que não recolhi, e depois meter o pé em cima.
Tremenda bosta.
Não obstante, do que adianta nojo e xingamentos ao resvalo?
A cagalhança esparramou-se, afinal. Reclamar de quê (?), se eu sempre soube que se não a recolhesse ela se esparramaria.
Um pára-choque arrebentado na cabeça de um cão grande na Dutra foi o sino que não quis ouvir.
O abandono de um amor.
A rejeição de um filho ainda feto.
Babá adolescente, improbidade, canela arrebentada.
Muitos fodam-se cedo demais.
Pílulas de amostras grátis com o lote arrancado da cartela na liturgia do dissipar-se na pós-modernidade transformando gente em nada.
Pouco tudo agora importa. A caganeira sempre esteve lá e lá continua.
Eu a vi, não limpei, e ainda assim percorri a trilha.
Desinfetantes? Qual o quê (!?), Maria Lelé e caras pálidas -
Minha filha dorme no cômodo ao lado.
Flor que vicejou do esterco.
domingo, abril 3
Paladar
Gosto do gosto de buceta branca.
Em verdade gosto de tudo quanto é tipo de buceta.
Bucetas magras, bucetas polpudas, bucetas peludas, bucetas raspadas.
Mas me encantam mesmo as buceta claras.
Melhor ainda se os olhos
Que a acompanham forem verdes
E mudarem de tom conforme o tempo.
Se chover mais escuros, no sol clareados.
Melhor ainda se a pele
Que a veste for alva
Com as veias azuis do abdome
Subindo até o pescoço gentilmente.
Gosto do gosto de buceta branca.
Em verdade meus dois grandes amores
Têm virilhas de leite e pelos amarelos,
Às vezes, na variação das luzes, quase avermelhados.
Melhor ainda que são belas
E de olhos claros, e que as vivi.
E persegui o curso de suas veias,
Das falanges dos dedões às escondidas nos céus das bocas.
Melhor ainda que elas ainda vivem
Traçando seus caminhos, pouco importa
Se distantes dos meus. Nossas vidas
Um dia se bordaram. Muito isso me basta.
Gosto do gosto de buceta branca.
Em verdade não as escolhi,
Elas simplesmente me ganharam
Nas intersecções de seus entroncamentos.
Melhor ainda que me desejaram,
Engoliram-me enquanto os olhos
Que as acompanhavam me davam
O inusitado prazer de ser o agora e o depois.
Melhor ainda que me amaram.
Quiseram-me em suas mesas e
Em seus banhos. E vestiram seus seios rosados
Com minhas blusas sem botões.
Eu gosto mesmo é do gosto de buceta branca.
Em verdade gosto de tudo quanto é tipo de buceta.
Bucetas magras, bucetas polpudas, bucetas peludas, bucetas raspadas.
Mas me encantam mesmo as buceta claras.
Melhor ainda se os olhos
Que a acompanham forem verdes
E mudarem de tom conforme o tempo.
Se chover mais escuros, no sol clareados.
Melhor ainda se a pele
Que a veste for alva
Com as veias azuis do abdome
Subindo até o pescoço gentilmente.
Gosto do gosto de buceta branca.
Em verdade meus dois grandes amores
Têm virilhas de leite e pelos amarelos,
Às vezes, na variação das luzes, quase avermelhados.
Melhor ainda que são belas
E de olhos claros, e que as vivi.
E persegui o curso de suas veias,
Das falanges dos dedões às escondidas nos céus das bocas.
Melhor ainda que elas ainda vivem
Traçando seus caminhos, pouco importa
Se distantes dos meus. Nossas vidas
Um dia se bordaram. Muito isso me basta.
Gosto do gosto de buceta branca.
Em verdade não as escolhi,
Elas simplesmente me ganharam
Nas intersecções de seus entroncamentos.
Melhor ainda que me desejaram,
Engoliram-me enquanto os olhos
Que as acompanhavam me davam
O inusitado prazer de ser o agora e o depois.
Melhor ainda que me amaram.
Quiseram-me em suas mesas e
Em seus banhos. E vestiram seus seios rosados
Com minhas blusas sem botões.
Eu gosto mesmo é do gosto de buceta branca.
sábado, abril 2
MUDANÇA
Minha escrivaninha de madeira boa voltou.
No tampo, pequenos ramos de flores
Pintados à mão no pinho retalhado
Nas serras do sul respiram mais uma vez.
Madame antidepressivos de boca suja devolveu.
Meus livros agora estão aos seus lugares.
Respiram no armário de madeira boa e dezesseis vidros
Que veio no mesmo frete, chacoalhando
Por conta do asfalto ruim dos cantos de cá.
Madame antidepressivos de cabeça torta deixou pegar.
Armário e mesa de escrever combinam
Com a carreta de seis bois pitangas levando
Fumo de um lugar para outro lugar, sempre mui longe,
Pintada por pictografia e tintas no couro esticado.
O lanceiro que a conduz, nunca deixei para trás.
Na parede o milongueiro de chapéu, lenço e viola,
Repousa no cobre dedilhando melodias de cordas
Gozando na cor da lenha que agora retorna.
Coisas suas irmãs, que tantas coisas já choraram.
A milonga e as melodias das distâncias, nunca ficaram para trás.
Abro as gavetas, ajeito a papelada.
Nina disse que os livros dela
Devem ficar juntos aos meus em nosso escritório,
Que segundo ela, ficou muito lindo.
Reservo lugar para as ilustrações, para as páginas, para as letras de sonhar.
Os meus espaços são também os dela,
Não há outro jeito senão repartir.
Os sonhos dela serão os meus sonhos,
E suas andanças, minha artrite e meu travar.
Que venham as épocas, os entreveros, a tolerância com alguns grandes sorrisos.
Gargalharemos... Nada nos importa -
Tempos rotos, dias anis...
O que há para saber afinal?
Nossos braços nos abraçam Nina, e estalam todas nossas costelas.
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