quarta-feira, março 18

Lepra


Escrevi aqui no Blog, tempos atrás, sobre minha pendenga com uma empresa junto aos tribunais constituídos. Revelei pouco sobre o causo para não atrapalhar o bom andamento dos trâmites processuais. Agora, a sentença dos senhores de preto e togas é pública, então já posso dar a língua ao vento.
Iniciando pelo fim, logo adianto: quedei na peleia. A briga era contra Os Correios, empresa estatal subordinada ao Ministério das Telecomunicações. Aquela bem conhecida da gente por conta dos caras suando dentro de um uniforme que cachorro vê de longe, e pela aparição de diretores nos telejornais metendo a mão larápia e sebosa no dinheiro dos otários que pagam impostos direto na fonte.
Pois é, a empresa essa perdeu um DVD meu. Quem dera fosse do espetáculo da Bethânia com a Omara Portuando. Esse eu achava rapidinho em qualquer centro de compras. Ela perdeu mesmo foi uma produção em vídeo de trinta minutos que banquei do próprio bolso, há muito currado por taxas e contribuições que vou bater as botas sem ver transformarem-se em benefícios.
Perdeu como? Não sabe, e tão pouco quer saber. Mas nega, nega até o fim. Aceitou despachar a encomenda, cobrou por isso, não entregou, e nega, nega até o fim.
Fiquei fulo mesmo, emputecido, raivoso e ainda mais descrente do que já ando, por ter perdido a causa. Ora, se eu tenho os documentos comprovando a postagem do material na data tal, em tal agência e município, e a empresa por sua vez não possui minha assinatura na papelada atestando o recebimento, como meu requerer pode ser improcedente, como disse a juíza?
Sem pestanejo lhes respondo: simplesmente porque sempre perdemos, e eles sempre ganham. É a ordem natural das coisas por aqui. Eles têm apertos de mãos, assessores, fisiologismos, leis caducas e o nosso voto burro. Parlamentar hoje, por exemplo, é atravessador de verba pública. Juiz? Estrela de televisão. Vide o Gilmar, guardião supremo do Estado de Direito e, segundo a Carta Capital, senhor de universidade prestadora de serviços sem licitação a organismos públicos, e também coronel de metade do Mato Grosso. Se acharem que estou me passando, é só consultar uma hemeroteca, e daí tentar formar opinião.
Mas voltando a vaca gorda, foi por causa dele que perdi minha causa. Foi por culpa do Gilmar. É ele o responsável. Ele, o Renan, o José, o Michel, e mais o PMDB inteiro. Ah, e também o Fernando, agora o bam-bam-bã da comissão de obras do Senado. Justo lá, por onde passa a metade dos lobistas ancorados no cerrado plácido da Esplanada dos Ministérios.
Êta porra! E eu aqui, sem meu documentariozinho que me custou as burras para fazer. Mas Oxalá, tenho fé, alguém ainda há de ser preso. Afinal de contas perderam o meu DVD, ora bolas!
Não obstante, se ninguém entrar em cana logo, largo esse negócio de audiovisual e viro diretor do Senado. Diz que o negócio é bem bom. Dá grana e não precisa fazer quase nada. Só dar uma alisadinha nos escrotos que, apesar de enrugados, são pródigos em foder com quem não faz parte da rodinha.
Posso também abrir uma empresa em Brasília e negociar notas frias. Será uma roldering de muitas empresas: postos de gasolina, restaurantes, gráficas, serviços de transporte. Firmas de segurança, limpeza, instalação de telão e tradução simultânea. E tudo, tudinho mais que a demanda impuser às necessidades. A sede vai ser numa salinha em Planaltina. Vai ter uma escrivaninha com o tampo solto e uns armários grandes, daqueles de latão. Iguais aos das secretarias de escolas públicas. Vão servir só para guardar os blocos de notas fajutas. E é claro, na precaução, na saída dos fundos do cômodo, coloco um incinerador dos quentes.
E não julguem o valor do negócio pela saleta e pelas traças na cola avermelhada dos bloquinhos. Empreendimento assim já nasce respaldado, sim senhor. Com aval e retaguarda de delegado, capitão e coronel. E mais ainda, lá para adiante, se os números forem bons, chega a benção dos congressistas, procuradores, juízes, ministros e generais.
Assim vai ser. Vou ganhar muito dinheiro. Vou ensinar aos meus filhos que em terra de ninguém, cada um, de cepo, arranca o seu quinhão.
Mais dia, menos dia, vou estar na televisão. Homem influente, amigo de barões. Senhor financiador amasiado com os pequenos diabos, varões da lei.
Salve o voto, a democracia, a carta federal. Salve as instituições, e o senhores que por elas nos guardam.

4 comentários:

Anônimo disse...

Marco seu post me fez lembrar a indignada música do Cazuza: "Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, mas transformam o país inteiro em um puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro".... . Eh isso meu amigo. Penso que a grande militância do milênio é se alistar no Talibã. Se este, eh claro, não for também uma genial invenção do Império. Mas podemos virar terroristas virtuais, verbais, professoriais, eleitorais, e de tanto terrorismo, viraremos profissionais. Oxalá! Conte com a minha solidariedade e indignação.

Anônimo disse...

ah, o Gilmar Mendes... nem fala!

Jana disse...

Pois é... Pois é...

Unknown disse...

Ai, Tchê.
Eu tava nessa empreitada contigo, sei bem como além da tua suada grana, suamos para realizar um trabalho independente, honesto sem pedir favor a colarinho branco nenhum. Que bom que foram-se os anéis, mas os dedos ficaram. Há muito já não confio na ECT e seu maléfico monopólio. Dá próxima tu pede que mande a encomenda por um pía de plantão.
Abraço.