sexta-feira, fevereiro 4

Musa





Tenho fome

Minha pele seca
Meus caninos enfraquecem
A catarata acinzenta meus olhos

São os anos de inanição, meu amor

Mas ainda olho o derredor com viço
Tenho dedos rijos e hábeis
Pés que andam
E uma certeza que me basta

São os anos em que a distância aproxima

Sinto o cansaço no ranger das falanges
Minhas veias entopem
Minhas unhas se alquebram
A cabeça lateja

São os anos do açoite, do sal espumando a ferida

Mas ainda pressinto um mundo alvissareiro
As flores me inebriam
Os cheiros me entorpecem
Constelações me abraçam

São os anos de meus cílios e nariz no purgatório

O meu peso debruça-se sobre minhas vértebras
A minha descrença malsã amarga meu palato
Minha desconfiança com toda a gente bifurca minha língua
Meu cinismo deita-se em meu colo

São os anos do tropeço, do manquejar, da turbidez da obviedade, meu amor

Mas ainda percebo a minha sorte
Em minha península és musa e flutuas
Caminhas como gente
Levanta-te mulher

São os anos que me pedem agora o esboço de um sorriso
















Um comentário:

Betina disse...

já que ninguém dá opinião... Pelo menos vou deixar claro que te acompanho! Betina