sexta-feira, fevereiro 6

Obrigado por fumar


“Obrigado por fumar” é um bom filme. O enredo, embora seja ficcional, explicita números, estatísticas e estratégias da indústria do fumo nos Estados Unidos. O final é chato. Estoura numa catarse moral desnecessária. Ttratando-se de uma produção americana, nada de estranho.
O intento do preâmbulo acima? Nenhum. Só estou enrolando para começar a escrever sobre o que anda me aporrinhando o saco ultimamente: as infames patrulhinhas do tabaco.
Tá certo, os fumantes abusaram por tempo demasiado. Era pito no elevador, no escritório, no restaurante. Até em festa de final de ano em jardim de infância fumava-se sem perdão e culpa. A gurizada lá, dançando o pau de fita, e os marmanjos pelos cantos fingindo assistir, e é claro, fumando. Cagava-se para as criancinhas. Dava-se um foda-se aos palatos da mesa vizinha. Tripudiava-se da asma e alergia dos colegas de repartição. Afinal, falta de ar na época quem tinha eram as crianças e as mulheres, e olhe lá. Que ofegassem com parcimônia. Se fosse homem então... Para coçar as narinas e espirrar as sensibilidades o sujeito tinha que ter paleta, já que lhe recairia no ato o peso da suspeita sobre suas preferências e necessidades. Incomodação em demasia com a fumaça, só tinha o vivente de pouca convicção que na hora de engatar a marcha troca a primeira pela ré.
Era abuso por demais, bem verdade que isso lá era. Flertava-se com a maldade. Enfumaçar sem um mínimo de constrangimento o ar de crianças que sequer firmavam o pescoço, ou por em dúvida a masculinidade de um sujeito por conta de um par de narinas inflamadas era no mínimo sacanagem. A tanto descaso havia mesmo urgência de bridão e freio. Contudo, no entanto, todavia, nesses tempos do agora, do politicamente correto - expressão essa que convenhamos, beira a gozação – em que o iogurte, o brócolis, os chazinhos, corridinhas e panturrilhas firmes ascenderam a pedestais sacrossantos, a perseguição aos fumantes começa a cheirar mal.
É patrulha demais. Não fume ali, também não acolá. Dentro é proibido, e lá fora não pode não, pois a lei se espicha até pra lá do terraço. Se a coisa continuar na passada que vai é bem capaz de termos de enfrentar milícias pelos cantos e esquinas arrancando filtros aos tapas. E daí quero só ver. Contra-revoluções costumam ser sangrentas. Liberté, Egalité. Já a Fraternité, esqueçam e engulam as queixas. Robespierre, se bem me lembro, meteu na guilhotina até a constituição. Deu no que deu. Saiu o rei sol broxão e entrou o perfumoso peruquento cortador de cabeças. Derrubaram a Bastilha, cortaram as gargantas, vizinho dedurou vizinho só pra comer um a mulher do outro, e acabou que os franceses tiveram que aguentar o nanico chapeludo e o retorno do absolutismo.

No caso da iminente convulsão dos fumega contra os não fumega, banco dez por um como ressurgirão das cinzas o Minister, o Continental, e de quebra, entre as castas de pé no chão, o Belmonte, ovacionado e em glória. Isso porque aos fumega, se falta à convicção de nobreza de causa, sobra fissura - muita fissura, além da necessidade intrínseca do homem por Liberté, sem que ninguém lhe encha o sagrado e enrugado saco.
E aos não fumega o que resta? Pouco, quase nada. As fileiras são frágeis; os soldados, dispersos. Faltam-lhes marcos de unidade como o vício e o desejo em dor física e psicológica, coisas que o inimigo tem de balde. De qualquer forma, o caos busca equilíbrio, e um dia os opostos se estabilizam. Depois do sangue, da decapitação de filtros e cabeças, os fumega serão mais respeitosos nos espaços e delicadezas, e os não fumega, mais tolerantes nos cafés, bares e porões.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olalá,ressurgiu!!!!!!!!!!!!!!!
Bem vindo(sem ífen?)
Estava saudosa,espero os próximos.

mãe

Anônimo disse...

patrulhinhas são chatas; mas patrulhinha do tabaco em casa com bebê é razoável, hein? saudade de vcs. bjs