segunda-feira, março 14

Paquiderme















Abandonei cedo demais o caminho dos passarinhos
Tornei-me um paquiderme pesado e velho
Quis me travestir de poesia sem ter vivido
E ajoelhei-me diante da idéia de que só a tristeza cria

Li coisas sem entender cedo demais
Entrelacei meus dedos aos da arrogância
Quis traduzir a mim e a terra
E vendi-me ao sorriso da vaidade julgando-a ser virtude



Entreguei-me a indecência de Deus cedo demais
Flertei com demônios e infernos
Fiz do cinismo e do escárnio altar de bajulação
E tornei-me desertor de mim escondendo-me no ímpeto do ataque

Vesti os trapos do mentecapto cedo demais
Enamorei-me da lágrima do incompreendido para acreditar-me herói
Empunhei sem sangue as dores do mundo
E abandonei-me a pretensão da blasfêmia

Encarnei a obtusidade dos arautos cedo demais
Anunciei as tolices de minha gagueira
Fiz com a idiotice um tapete mal trançado
E acreditei-me o escolhido enquanto ruminava asneiras

Hoje como a poeira do mundo
E me lambo com ela
E me limpo a garganta com ela
E me clareio os olhos com ela
E me destampo os ouvidos com ela
E me descongestiono o nariz com ela
E me arrumo o tato trôpego com ela

E me cuspo o cuspi comprido
E pingente tentando falar através dela

2 comentários:

Anônimo disse...

Pesado, velho?
tsc, tsc,tsc
Que pena!
Queria eu poder te fazer sentir-se leve e noviço...
Talvez nunca tenha se sentido assim...
Pena de novo!
Talvez tenhas achado que tu não és merecedor...
Que pena!
Vale a pena (talvez) olhar ao seu redor
Isso sim vale a pena!

- quero ouvir mais....

Marco Rost disse...

Estás publicada.
O teu “ tsc,tsc” me parece irônico e condescendente.
Não preciso de nenhum dos dois.
O teu desejo de fazer-me sentir noviço e leve me diz que tu me conheces.
O teu texto carrega um DNA que domino bem.
Quereres “ouvir mais”, enfim te revela.
Ora pois, saia do anonimato.