sábado, abril 2

MUDANÇA


Minha escrivaninha de madeira boa voltou.

No tampo, pequenos ramos de flores
Pintados à mão no pinho retalhado
Nas serras do sul respiram mais uma vez.

Madame antidepressivos de boca suja devolveu.

Meus livros agora estão aos seus lugares.
Respiram no armário de madeira boa e dezesseis vidros
Que veio no mesmo frete, chacoalhando
Por conta do asfalto ruim dos cantos de cá.

Madame antidepressivos de cabeça torta deixou pegar.

Armário e mesa de escrever combinam
Com a carreta de seis bois pitangas levando
Fumo de um lugar para outro lugar, sempre mui longe,
Pintada por pictografia e tintas no couro esticado.

O lanceiro que a conduz, nunca deixei para trás.

Na parede o milongueiro de chapéu, lenço e viola,
Repousa no cobre dedilhando melodias de cordas
Gozando na cor da lenha que agora retorna.
Coisas suas irmãs, que tantas coisas já choraram.

A milonga e as melodias das distâncias, nunca ficaram para trás.

Abro as gavetas, ajeito a papelada.
Nina disse que os livros dela
Devem ficar juntos aos meus em nosso escritório,
Que segundo ela, ficou muito lindo.

Reservo lugar para as ilustrações, para as páginas, para as letras de sonhar.

Os meus espaços são também os dela,
Não há outro jeito senão repartir.
Os sonhos dela serão os meus sonhos,
E suas andanças, minha artrite e meu travar.

Que venham as épocas, os entreveros, a tolerância com alguns grandes sorrisos.
Gargalharemos... Nada nos importa -
Tempos rotos, dias anis...
O que há para saber afinal?

Nossos braços nos abraçam Nina, e estalam todas nossas costelas.

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