terça-feira, dezembro 14

Tormenta





Agora te vai tormenta medonha.
Levas contigo ao ralo tuas águas de ópio.
O meu amor escondido em jarros e vasos
Nem teus mil olhos, Agramon,
Foram capazes de perscrustar.
Agrisalhaste minhas melenas,
Tornaste meu peito quase tísico,
Revelaste-me as possibilidades de minha morte,
Mas ao preparar meu esquife foste avaro.
A madeira era ruim
E os cravos que usaste eram curtos demais para cadear as juntas.

Achaste que seria assim tão simples sepultar-me?
Acreditaste que os círculos onde te é permitido entrar
Bastariam (?), mentecapto.
Pensaste que teus silvos de diabo de segunda ordem
Seriam o suficientes para estourar meus tímpanos
E desnortear meu labirinto?

Tua ilusão do medo açoitou-me até a ferrugem do sangue,
Isso é bem verdade.
Mas subestimaste-me.
Subo melhor do que desço,
E aqui em cima, também somos cólera.
Fiz-me gente com a lestada – o minuano em frio -
Eu também sou o inferno, seu bosta.

Queres saber de quantas balas precisas para prostrar-me?
Conto-te:
Convoque teus irmãos das ordens inferiores.
Juntos, ergam a maior metalurgia do mundo interior.
Ressuscitem os forjadores esquecidos nas catacumbas,
E usem o fogo e o enxofre ao ponto do próprio derretimento.
Aí então, acelerem os átomos,
Os façam colidir.
Da matéria escura que brotar
Bordem os seus projéteis.
Todavia, saibas tu, Agramon,
Que sou capaz de engolí-los.
E da azia que me queimará o estômago,
Dou conta com um sal de frutas.

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