quarta-feira, dezembro 8

A vida útil, apesar do tempo - Cartas I - O Riso

... Teus sorrisos desataram-se e tornaram-se gargalhadas. Aqueles risos tão grandes tinham algo de pantagruélico. Foram me devorando primeiro com a boca, depois com os cílios, o queixo, as falanges.


E tu vinhas a mim nas contrações de tuas costelas. Escondia a face entre as mãos. Espiava do verdume de teus olhos. O riso subido no tom trouxe a variação do olhar, e um não sei o quê de confiável, tenho a impressão, lhe parecia, me parece, aparecia em mim.

Levei-lhe as frutas que te trazem para o dia... e depois das horas inclementes em que o sol castiga, e depois de ele se esconder para o descanso tardinheiro, servi a mesa. A noite, com tua vontade, entrar em teu corpo para depois me deixar cuidar. Tuas mãos em meus pés cansados, em minhas vértebras corcundas, na minha nuca em nódulos.

Manha de gato, dengo de guri.

Um mundo sereno em que mil exércitos com seus mosquetões, adagas, banhonetas, canhões, homens em fúria, não seriam capazes de subjugar.
A alquimia, a estrada para o gral, o algodão bailando sobre os campos.

Foi depois de desprendido o teu sorriso, que os dia passaram a ser mais leves. Foi depois do teu olhar leve de sorrir que o teu corpo começou a serpentear... que me olhaste pela primeira vez nos olhos enquanto me tinhas.

Agora navego na saudade de teus olhos gateados na luz do céu marinho. Nos teus cabelos avermelhados de arrebol. Nos teus quadris que se movem na procura da entrega. Navego pela união dos corpos e pela vontade do espírito. Se fosse um pássaro ligeiro, uma flecha rápida, iria até a onde estás para velar teu sono, afagar teus sonhos, e cantar ao nascer de mais um dia. Como não possuo asas, tão pouco o impulso dos arcos, me resta pensar em ti na esperança que minha alma passeie próxima a tua.

Que eu seja parte do hálito dos anjos que te sopram o fim de mais um ano.


Eles não perdem a velha mania –
Giram, giram, giram
Por sobre os paralelepípedos cobertos de fungos.
Elas não lêem
nem mesmo as orelhas
dos pobres livros envoltos em ácaros.
Estou transbordando.
E minha tesão aumenta
Toda vez que ouço tua voz,
E sinto teu cheiro,
E miro teus olhos
Na estagnação lépida
Das esquinas pontiagudas de meu porta-retratos.


Continua




2 comentários:

Anônimo disse...

Voltaste,ótimo! Segue o rumo do teu próprio coração,como diz a nossa
canção gaúcha. bjos Esa

Anônimo disse...

Literatura para chamar ex-namorada.