terça-feira, junho 7

Aurora


O vento sul bate desde ontem à noite arrebentando com as castanheiras.
O doido fez um rebuliço danado à madrugada inteira:
Arrancou roupas do varal, embolou as nuvens,
Derrubou latas, jogou os baldes longe.
Fez graça com a bacia do molho dos panos de prato que
Rodou feito carrossel pelo pátio.
Mas trouxe por fim na manhã, o sol para a janela.
Precisava de tanta algazarra, o Malazarte?
Tem granola, suco de soja de laranja. Pão, iogurte, frutas, manteiga nova e queijo.
A mesa é pequena, mas a gente cabe nela, os farelos é que se entendam com o chão.

Perdi muito tempo com gente que fala demais ser ter nada a dizer.

Coloquei as tuas meias, não achei nada na gaveta e nem lá fora.
Ficou bom, mas tem um negócio rosa nelas... Não atrapalha ou incomoda.
Agora já dá para caminhar, além do mais as cadelas estão indóceis no portão.
Na volta tira as tuas coisas do chão,
Coloca aquele monte de xampus e cremes no banheiro.
Abre espaço do lado de lá do armário,
Tá sobrando um monte de cabide.
Vê se pendura às coisas.
Eu e a Nina (?)... A gente vai gostar.

Passei muito tempo com gente que fala demais sem ter nada a dizer.

Tira o teu carro, o meu ficou no Jacir e na Marilza, foste tu quem nos trouxeste.
A gente passa na farmácia compra manteiga de cacau
E depois almoça Tilápia com gostinho de limão e de terra.
E depois que almoçarmos a gente volta para casa
Para cairmos de novo na cama. Com esse vento encanando
É bom colocar lençol, manta e edredom.
Vai ficar quentinho com a gente lá embaixo.

Muito tempo...

O dia vai se deitando devagar, mais amarelado do que de costume.
No cômodo ao lado tem um monte de cobertas
Sobre a cama, e sob elas, um sono de pupa.
Pupa, pupa, pupa...
Antes de acordá-la molho os xaxins e alamandas.
Depois paro na porta do quarto e a vejo com as ágatas entre os seios.
Não tem jeito, amanhã é segunda.
Pega, toma, me abraça...
Leva um Neruda, ao menos.

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