sexta-feira, junho 3

Branca


Quinta - passa das vinte uma.
Quase em casa... O cheiro dela está lá.
Ficou da noite passada, ficou de noites atrás.

Conto isso para ela pelas teclas apertadas do celular
E ela responde e diz que o gosto de minha boca está com ela.
Ficou da noite passada, ficou de noites atrás.

Posso ver tua ponta de pés catapultando o teu corpo
Um pouco mais para o alto - sentir tua boca tocando a minha.
Posso ver teus olhos sorridos com jeito de emaconhados.

Tu passaste o dia procurando anomalias, possibilidades de acidentes.
Fazendo relatórios imensos sobre buracos, pó de ferro, capacetes e ausências de luvas.
Passei o dia preocupado com os cabos e a transmissão simultânea.

Passei à tarde com o teu sorriso róseo,
Com o gosto do caldo de aipim esverdeado pela couve.
Passaste à hora depois do almoço e das planilhas, sonolenta.

Mas a fábrica não pegou fogo, afinal.
Nenhum infeliz teve a sorte de acabar o dia decepado.
A transmissão também deu certo, foi tudo bem... Todos estão satisfeitos - até amanhã.

Teu carro está com pneus novos, ora essa!
Tu fizeste as unhas correndo e saíste apressada.
Eu fiz a barba e achei um perfume velho para passar no rosto.

O placar está por quanto?
Quantos dias sem acidentes?
Há quanto o gelo das barrigas não trazia medo e faceirice?

Há quanto tempo não ríamos por qualquer
Bobagem até a dor exercitar os abdomens?
Já nem poderíamos nos lembrar... E nem devemos, Catharina.

De nossa esquina se estende uma rua, e logo adiante uma avenida.
E depois da avenida, se estica uma estrada,
E pela estrada, dormitam os desvios, as vicinais, a luz e a brita.

Por ela quebram-se noites intermináveis.
Os passados vividos, sofridos, alquebrados, corrompidos.
Desfazem-se as tristezas - cristaliza-se o sal.

E da noite quer nascer o dia.
E de o vivido, erguer-se um andaime.
E do sal, pontear o gosto, de novo... Catharina....

Tá bom...tá bom!
Se tu dizes... Vou tentar dormir com esse cara, Deus,
Ainda que prefira repousar contigo.

Achei teu brinco...

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