quinta-feira, setembro 4

Despautério


Isso é sério?




Os critérios avaliados para sediar uma olimpíada passam por tradição olímpica, força econômica, infra-estrutura, segurança interna e peso político. Não preenchemos nenhum dos requisitos. A cidade candidata então, nem se fala. Faltam hospitais e sobraram mosquitos. Voltamos à selva e os pernilongos matam como no início do século passado. Transporte público só é piada para quem não usa. Trens e metrôs? Sucatas. Já os ônibus, estão sempre superlotados arrastando-se feito lesmas por vais entupidas e enfumaçadas. De resto - carros, táxis, peruas ilegais, caos e buzina entre caveirões bloqueando acessos.
A segurança interna é de chorar. Não me alongo, o alvo é fácil demais. Polícia corrupta e despreparada, traficantes, milicianos e todo tipo de bandidagem a solta com armamento pesado cuspindo bala pra tudo quanto é lado.
Aos que abanam com o argumento do Pan-americano, recomenda-se parcimônia e bom-senso com a sensação de segurança e caixas pretas. Trégua, não vale. E se os problemas de infra-estrutura podem ser solucionados em menos de oito anos, o que duvido, será à custa de muito dinheiro público federal que premiará décadas de leviandades, falta de investimentos, roubalheiras e ausência de compromisso com a coisa pública por parte de sucessivos governos municipais e estaduais. Se for assim, todas as outras capitais dos estados da federação têm por direito e dever cobrar os mesmos recursos em igual espaço de tempo.
Quanto à tradição olímpica, não temos nenhuma. E não adianta choramingar por dinheiro. Em geral, a penúria é das federações e não dos dirigentes.
O investimento no atleta começa na escola pública. Educação física não é jogar uma bola no meio do pátio, quando houver um, é claro. São professores bem pagos, ginásios, quadras, pistas de atletismo e material esportivo. Projeto bom, seu Nusman, passa por políticas de incentivo a competições escolares municipais, estaduais e nacionais. Para os destaques das diferentes modalidades, bolsas de estudos e engajamento em centros esportivos de excelência custeados pelos impostos e geridos com seriedade por representantes da sociedade civil e federações. E para elas, eleições diretas com direito a voto para os atletas técnicos e dirigentes afiliados. Projeto bom, senhores cartolas e políticos de carreira, é botar dinheiro nos pequenos projetos que estão nas periferias de todo país tirando crianças das ruas. Iniciativas essas na maioria, capitaneadas por alguns abnegados que doam seu tempo e dinheiro ralos em nome do esporte e da comunidade em que vivem. Qualquer plano, delineamento, empreendimento, senhores, passa em primeiro lugar, em traçá-lo em nome do esporte e não por alforjes esturricados de moedas e vaidades pessoais. As estrelas de hoje e as que brilharão amanhã não deitam a barriga sobre o mogno dos gabinetes.
Pois então, quando tivermos cidades limpas, seguras, ordenadas. Escola pública de valor, centros esportivos, federações fortes e ilibadas, e por conseqüência, desempenho olímpico, pensemos em sediar evento de tal porte. Francamente, enquanto os coitados dos nossos atletas forem a TV para chorar e desculparem-se a nação, estaremos mal. Com todo respeito a vocês atletas, não se arvorem em achar que algumas parcas medalhinhas redimirão esse país e nosso orgulho. Não queremos heróis, mas sim crianças sadias, que porventura, tornar-se-ão atletas. E que então, pois, tenham um salário digno, condições de trabalho e orgulho de representar um país que apostou tanto no desmilinguido que melhorou a coordenação motora e hoje vive melhor, como naquele que se tornou medalhista olímpico.
Pequim não nos pertencia. A culpa não é de vocês. Muito menos do psicólogo que esqueceram de levar. A culpa é minha, do meu vizinho, dos meus concidadãos. De qualquer forma, que tal participar um pouco mais ativamente das federações as quais pertencem?

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