quinta-feira, setembro 11

Oftalmologista


Daqui a alguns dias completo quase quarenta anos. Apesar de ter sido um desportista, atacante de ponta e campeão, levo uma vida sedentária com muitos cigarros e alguma bebida. Na alimentação, pelo menos sem exames e com muito brócolis, vou levando. O caso é que não dá para ficar protelando, bate à porta a hora de abrir a porteira. Deixar adentrar por onde a vida inteira só saiu – à exceção de uma lavagem por conta de uma tarde comendo goiaba, admito. Para me preparar psicologicamente ando estudando sobre o assunto e também marquei hora na oftalmologista. Se for para fuçar em algum olho, acho sensato que seja primeiro nos de cima. Só depois vou procurar uma médica que entenda de próstata e leve jeito no trato com rabistecos. Isso já decidi, vai ser doutora. É coisa minha, sabe? Sei lá, pode parecer bobagem, mas com garotas fico mais à vontade, menos na defensiva. Para espantar esse medo, consultar a literatura médica ajuda muito. Já descobri, por exemplo, que não há a menor necessidade de ficar de quatro, basta deitar de ladinho. Outra coisa a atentar-se é fazer um histórico da vida pessoal da algoz. Não custa nada consultar a manicura da mulher. Vai que ela esteja num mau momento. Se estiver passando por uma separação traumática, por exemplo, a enterrada é certa. Não se dá nem o trabalho de cuspir, a bandida.
As mulheres com quem tenho falado sobre o dilema me têm tranqüilizado, cada uma do seu jeito. Minha mãe diz para “fazer esse negócio de uma vez”. Minha esposa fala quer que eu viva um tempão. Já minhas amigas são metidas a engraçadinhas e ficam com umas bobagens de “quem sabe tu pegas gosto”. Já minha sogra que é oncologista é puro pragmatismo: “tens que fazer e pronto”. Mas desconfio que para elas é mais fácil – pela natureza e conformação genética. Então resolvi consultar alguns amigos.
As entrevistas são difíceis. Todos falam muito pouco sobre o assunto. São respostas monossilábicas, não passam de um ah. Até reparei que uns e outros arrastavam um pouco o H, mas achei melhor não comentar. Quando sai uma frase, falta concatenação. Compreendi apenas algo sobre necessidades e circunstâncias. De resto são coisas soltas ao ar. Alguns amaldiçoam o avanço da medicina, o exame preventivo e o bom senso; o instinto de preservação e até a covardia frente à morte. “Mais vale um dedo futucando a cabeça por muitos anos do que um esquife feito às pressas”, filosofou um sem muita segurança, tentando ajeitar-se na cadeira com o olhar parado no nada. Um outro me confessou que fez pelos filhos, e agora, de uma hora para outra, “sem mais nem por quê”, começou a distribuir porrada entre a gurizada.
Noves fora, o caso é que estou numa sinuca de bico – esqueçam o taco, pelo amor de Deus. Chegou minha vez de enfrentar o imponderável.
Lembro que meus pais tinham um amigo cujo apelido era Piroca. Só entendi o porquê da alcunha quando descobri a profissão do homem: urologista. Achei engraçado o cara ter escolhido um trabalho desses para ganhar a vida. Olhar e mexer em pirulitos todo dia (?), gozado, né!? Tá bom, pensava eu, merecia o apelido e as piadas infames. Mas estou começando a achar que quem ria de verdade, por último por assim dizer, era ele. Agora aquele bigodinho ralo e os óculos grandões não me saem da cabeça.
Ai, que medo do Piroca. Ele que parecia tão amigo.

4 comentários:

Anônimo disse...

toma um gole grande de cachaça e vai...rs

Anônimo disse...

relaxa...afinal nao eh olho de macho? tchê

Anônimo disse...

Gaúcho fazendo exame de próstata é um perigo! Deixa de frescura tchê! Vai dizer que nunca experimentou um fio terra? hahahahahahahahahaha

Anônimo disse...

Ô guri... Não estás com muita pressinha não?.. Eu, que já conto 42 invernos, sei (de fonte não muito segura, mas na qual creio)que é só depois dos 45. Mas se estás a fim, quem sou eu de te tirar este pirulito (ôps, imagem ruim).
Zé Da Geruza.