sexta-feira, agosto 15

Cracóvia


Não dou muita bola pra esse negócio de copa do mundo e olimpíadas. Quando as competições acontecem do outro lado do mundo então, nem uma peteca. É muito fuso horário, reportagens bestas e esporte chato. Imagina ficar acordado até as duas da manhã para ver uma regata daqueles barquinhos que parecem com uma banheira de desenho animado. O Leôncio vai soprando a vela e o Pica-Pau enchendo o saco atrás. Duas da manhã, sofá afundado, e na TV um baita jogo de vôlei de praia. Ou ainda, uma partidinha de pólo aquático seguida das eliminatórias de tiro de arminha de pressão. Se o objetivo fosse acertar camundongos como a gente fazia quando guri a valer um copo de groselha com gelo vá lá, até seria divertido. Mas ficar tentando furar cartolina (!?), tenha dó.
Complicado também é agüentar a cobertura das nossas televisões. Pela empolgação e ufanismo de nossos comunicadores até parece que o Brasil está respirando os jogos olímpicos. Que nada, as pessoas aqui continuam mesmo é no rame-rame indecente de cada dia. Oxalá tivessem elas força para ficar acordadas depois de um dia de labuta que no final do mês nunca compensa. Pelo menos não é a copa do mundo, quando a firma concede um intervalinho. Se fosse, ficaria todo mundo sentado entre as máquinas espiando uma televisão velha com bombril na ponta da antena. E agüentar a mulher do patrão abanando no telão do estádio com um nozinho na camiseta e um “bauchilom” modernoso? A turma logo repara que ela vai a arenas esportivas desde pequena e é tarada por cachorro-quente com mostarda de mentira e querosene disfarçado de conhaque.
Bom, mas é a olimpíada, e por graças, não tem intervalinho nem patroa aloucada representando a firma.
Mas tem, nunca é tão simples, a mania nojenta dos jornalistas de ficar batendo na tecla - “é do Brasil”. É coisa nenhuma! Os atletas que estão em Beijing chegaram lá por conta própria. Treinaram descalços depois do expediente. Pegaram quatro conduções por dia durante anos para adestrarem-se. Fizeram vaquinha para conseguir material esportivo. Venderam a televisão e o três em um para viajar e participar das competições. Perguntem lá para menina do judô que ganhou o bronze o que o país fez por ela? Quem sabe para as gurias do futebol? Ou até mesmo para os atletas dos esportes que se afinam historicamente com a classe média. Dá-me uma raiva ouvir “é do Brasil”, ah... se me dá.
E tem um monte de abostados que ainda quer fazer olimpíada aqui. A tal da Rio dois mil e não sei quantos. Eles não conseguem realizar uma eleição municipal e querem fazer olimpíada? Mas vai ser bem legal. Os beleguins e traficantes firmarão um acordo tácito de paz. Eles vendem pó e pedra mais na manha e as forças de segurança dão um tempo nas operações de repressão e vão tomar sol na zona sul com a desculpa de proteger a turistada dos pivetes. A Rede Globo vai mostrar ao mundo a cidade tão linda que o Rio de Janeiro é. Serão imagens sobre imagens com um tema musical de arrepiar os cabelos. Aquela estátua de braços abertos, aquela baía linda e cheirosa lá pra baixo, o verde das matas e cemitérios clandestinos da Tijuca, as praias com cocô de sal e as meninas de tanga. E o pessoal do samba, é claro. Afinal música brasileira é samba, ou não é? Em vez de pensar em fazer esse negócio aqui deviam investir cinco por cento do que seria gasto em centros de treinamentos de excelência. Quando a gente conseguir ficar na frente do Vietnã no quadro de medalhas quem sabe dê para começar a pensar em tal despautério.
É por essas e por outras que acabo não vendo muito do que está acontecendo lá pra banda oriental. Todavia, vou me informando sobre as coisas devagar, e aos poucos, vou criando simpatias. Sou extremamente simpático, por exemplo, ao time feminino de vôlei da Polônia. Que time! Noves fora os nomes que nem vou tentar reproduzir aqui, as gurias são demais. É tanta perna comprida e rostos bonitos que a Cracóvia deveria ser aqui. A julgar pela beleza das raparigas suponho que depois dos guetos e da gestapo os poloneses se esmeraram tanto em viver que o resultado só poderia dar naquelas belezuras todas. Avante, meninas da Polônia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Só de pensar que substituiram a
a menininha cantora,alegando,que
nâo possuia beleza suficiente para
apresentar-se ao mundo,me poupe...
Um dos motivos seriam seus dentes
tortos,se estavam ensaiando,lá sei
eu quantos anos,teria dado tempo
de sobra,para estes dentes serem
alinhados.