quarta-feira, agosto 6

Vagabundagem

Talvez vocês não saibam, eu sou um dono de casa. Minha mulher trabalha pra cacete e eu fico aqui, só no bem bom. Levanto cinco da manhã para levar minha prenda pro centro. Ela trabalha, lembram? Daí volto pro Campeche com a cria no banco traseiro. A coitada vem ferrada no sono. Abro a casa e olho o dia. Separo a roupa. Meias e calcinhas de montão. Remexo mais fundo no cesto, mais calcinhas e meias de montão. Mais fundo, roupas de um hermetismo insano. Nunca vi tanta costura torta e pano sobrando na minha vida. E se paga por isso? Bom, ela trabalha.
Com a roupa na máquina – afinal sou um cara pós-modeno, tiro carne do congelador, separo o feijão, e já toco a ferver umas batatas que um pirê sempre é bom. Nosso pátio é grande, três cães chafurdam por lá com gosto - registre-se que neles eu mando – então me resta a varrição, já que os ventos sopram sempre pra dentro. A cria é legal. Quando acorda faz os temas, desenha, pinta, e lê feito gente grande, me dando tempo e sossego pra lida. Trabalho com estilo, é claro. Agora, para que tenham idéia, estou com uma vassoura bem descolada. A Cora foi ao mercado comigo e escolheu uma laranja que atarraxei a um cabo verde. O problema é o tamanho do cabo. Vou recomendar aos fabricantes que aumentem a centimetragem. Pensando bem, desse jeito dou idéia para quem já anda com as burras cheias. Talvez seja melhor investir num negócio. Montar uma fábrica de vassouras para homens, por exemplo. Tô fodido mesmo!
Chão limpo, vez do pano. E lhes digo, já não fazem sapólio como antigamente. Tem cheirinho de tudo, do clássico pinho, até limão, maça, lavanda. Sem falar nas combinações esdrúxulas. Outro dia quase tomei um troço desses achando que fosse suco. Quando o chão começa a lembrar um pomar, tá na hora de estender as calcinhas e começar a cozinhar.
Meto umas duas bananas na pequena, libero a pressão da panela e esmago as batatas. Limpo a carne com a cachorrada do lado que assim já vou me desfazendo do sebo. Pego a chaira e me sinto o tal. Mas no revertério... as calcinhas, as calcinhas, e um tanto de pano torto. Dou um jeito logo nisso, para depois jogar os bifes com manteiga na frigideira grande. Tenho uma técnica para estender a rouparia de modo a não precisar passar. Passar(?), me nego. Só me faltaria daí comprar um chambre mulambento e uma dúzia de bobes. O problema é que só eu acho que a técnica é boa.
Pois bueno, com a Cora banhada e almoçada, vem à tarde a aprochegar-se, e eu, ainda não postei nada, mas isso é outra conversa.

5 comentários:

Anônimo disse...

hahahaha.... Li este texto todo em voz alta pra minha mãe, que está aqui comigo nestes últimos dias capixabas.. Ela riu até.
E eu rolei de rir te imaginando como a dona Nenê da Grande Família com BOBS no cabelo...rs. Super gostei!

Anônimo disse...

Um tanto de pano torto...bobs no cabelo...chambre desbotado...meias e calcinhas. Bem vindo ao universo feminino ha ha ha. Os posts estão sensacionais. Bom ler vc aqui. Dah a impressão de que a gente estah te ouvindo. Eu, Júnior e Marcelo rimos horrores.
abraços
Vanessa Maia

Anônimo disse...

Bacaníssima o blog, cunhado. Sou testemunha do fiel cumprimento das tarefas domésticas. Assim que a Nina chegar e a poeria das avós baixar, pintamos por aí para matar a saudade e, quem sabe, comer um bifão na manteiga. Tudo sem deixar estragos na ilha, que somos turistas decentes.
Beijo,
Cacá

Anônimo disse...

E ai Tchê... tua lida prova que és um bom Bagual (no bom sentido)rs.
E o Pulso vai deixar de ser piloto?
Por aqui a gente se comunica.
Gostei do blog.
Abração pra família.

Anônimo disse...

Tchê, o que é chaira? Alguma variação de Xana? A foto está tri-legal. Os textos tornaram essa nossa noite de sexta na Faesa -ninguem merece ensinar e estudar numa sexta à noite - mais divertida. Adoramos e queremos mais, inclusive o tal bife na manteiga. Beijos lá!
Thelmo, Ana e Júnior.