terça-feira, agosto 12

Sobrinhos

Dunas da Joaquina - Florianópolis
Tenho um sobrinho que deve ter uns treze anos. Foi o primeiro, e para aumentar o suspense, ao nascer resolveu dar um bruto susto na família inteira. Chegou ao mundo com a buchada para fora, mais precisamente com o intestino. O médico que acompanhou a gestação da minha irmã pediu meia dúzia de ecografias, mas não enxergou o problema, estava mais preocupado em mostrar o pintinho, os dedinhos, e esqueceu de olhar direito os exames. Saiu da sala de parto para UTI, e de lá para a de cirurgia. Com as tripas de volta no lugar esperamos ansiosos o primeiro punzinho e a meleca que a galope normalmente chega logo atrás. Nunca uma cagada foi tão comemorada. A única seqüela que ficou foi a falta do umbigo, que cá pra nós, não faz falta nenhuma. O medonho agora até ganha dinheiro com isso. O golpe é mandar um amigo apostar com os desavisados que conhece um cara que não tem o olho umbilical. Selado o jogo, ele aparece com a blusa erguida e um sorriso na cara. Invariavelmente os golpistas faturam a merenda na hora do recreio.
Olhando pra ele hoje precisa de ver que belo mancebão que deu. Bonito feito ele só. Também é um guri bom... educado, gentil - e as gurias que não são bobas botam o olho nele ligeirinho. Por sua vez, ele que não é besta nem nada só quer saber de beijar na boca. Tá naquela fase em que as cabeças confundem-se, uma pensa pela outra e as duas só pensam na mesma coisa. Minha irmã que é durona feito minha falecida avó Ondina tá pagando os pecados. Já o meu cunhado dá a maior força. Cá eu, fico também orgulhoso, admito.
Na casa de praia agora é um entreveiro só. Como na cidade não se pode mais dar a liberdade que tivemos por conta do medo que nos castiga a cada esquina, é no litoral que as asinhas exercitam o vôo.
Enquanto a gente joga perfil, máster, general, palavras cruzadas e emborca vinho disfarçando o que o tempo tem feito conosco, o piá corre a praça. Chegam-se as dez, as onze, e vai bater o fim do dia e nada do guri. Minha irmã começa a olhar pro meu cunhado que faz de conta que não é com ele. De supetão ele sai porta afora e retorna quinze minutos depois:
- Vai ficar mais um pouco, eles tão lá.
O “tão lá” significa, se bem me recordo quando eu ficava lá, que tem um monte de guri em volta de um monte de guria falando um monte de bobagem com um monte de terceiras intenções. Os galinhos se empurram e se socam, debocham alto uns dos outros enquanto elas cochicham, trocam olhares cúmplices e passam as mãos nos cabelos. Às vezes parte do grupo das meninas sai sem aviso, vai pra lugar nenhum. Gurias fazem isso, simplesmente saem. Eles ficam loucos. Os mais interessados com a ausência ficam indóceis, falam mais alto e se empurram mais - buscam um canto, se afastam para palestrar sobre o que fazer. Na maioria das vezes antes que eles terminem de confabular e cheguem a alguma conclusão elas já estão de volta.

Se as gurias simplesmente saem o bom é que sempre voltam, e quando retornam estão ainda mais misteriosas, mais bonitas e cheias de segredos. E é aí que a coisa fica ainda melhor. É o tempero, a pimenta, o tambor no peito que vai suscitando o desejo, a paixão, e por fim o amor.
Mas isso o guri, o mancebão bonito, ainda está aprendendo.

2 comentários:

Jana disse...

Ué, cadê o post novo? Agora que você nos deixou mal acostumados, sentimos falta...
Beijos.

Unknown disse...

Bacana tua homenagem, super tio.
Saudades da época?
Abração!