sexta-feira, agosto 8

Saudades da Pané

Dia desses, minha prenda me levou pra passear. Demos um pulinho em Buenos Aires. Pulinho modo de dizer já que esse negócio de aeroporto e avião exige mais esforço que salto triplo.
Começa que a Anac e as companhias aéreas resolveram que atraso de uma hora não é atraso. Só um minuto depois de passados os primeiros sessenta que a coisa é considerada como tal. Tu te achegas no balcão e tá lá a moça, sorrindo, com toda a cara de pau do mundo, e diz que tá tudo certo. Caso tu resolvas perguntar sobre o atraso ela te responde: “Não há atraso, senhor, o vôo está no horário”. E vá tentar argumentar pra ver só. Brigar então, nem pensar. Ela pode cismar de chamar aquelas pessoas gozadas de paletó preto que são capazes de te prender por desordem.
A Janaina me contou que há que se ter respeito, pois eles são policiais disfarçados.
Bom, ia tudo bem, apesar da pontualidade duvidosa, até a funcionária pedir minha carteira de identidade que algumas semanas atrás tinha sido lavada com uma calça de brim que gosto demais. A moça encasquetou com o documento. Puxava o plástico, passava o dedo na foto, olhava pra minha cara pra ver se ela estava embaçada igual. Por fim deu o veredicto: “O senhor não pode viajar”. A Janaina quase teve um troço. Estressada... e eu, que não sou de me mixar, já mirava a porta de saída pra voltar pra casa que por si só já é um mundão. Pensei em apresentar a carteira de trabalho, documento que até brigadiano respeita, mas achei melhor não.
Implora dali, chora daqui, a Janaína, que se destaque, e eis que se aponta a resolução: hoje em dia tem um negócio nos aeroportos que se usa para asfixiar bagagem. Acho que tem haver com a Vigilância Sanitária. Uns meninos enrolam as malas com um plástico de maneira que se assegure que elas cheguem ao destino mortas e pouco arranhadas.
O garoto com uma perícia estupenda pegou o RG e o meteu dentro de uma máquina que lembra um mimiógrafo, só que sem cheiro de álcool. Pronto, estava lá a danada da carteira plastificada, e eu, apto a viajar.
Não sei por que tanto alvoroço.
Só que chegar dentro do avião não significa que o magnânimo logo se vai. Normalmente a gente precisa esperar mais um pouquinho. E aí é que a coisa começa a ficar boa de verdade.
Começa pelo assento. O pessoal das empresas deve achar que a gente é feito playmobil - dobra, encaixa e pára quieto. Que a estatura média da população brasileira fica entre o Nelson Ned e a Bruna Lombardi – por onde ela anda, hem?, e que todo mundo tá a fim de um pilates. Os joelhos da gente pressionam o banco da frente, e as costas, da lombar até em riba, são projetadas em direção ao babador da cabeceira do assento dianteiro que se usa para limpar a boca depois da barrinha de cereal.
Enquanto a aeronave não decola o único divertimento é ficar apertando os botõesinhos acima do cocuruto. Tem um que quando a gente aperta faz dimdon lembrando as campainhas da década de setenta e, logo depois, aparece um rapaz.
Quando enfim se ganha os ares, quem tá sentado ao lado corredor tem de ficar atento ao carrinho do bufê. Ele ocupa todo o espaço de trânsito e se o vivente no intuito de acomodar-se melhor deixar um cotovelo pra fora corre sérios riscos. Conheço um cara que perdeu uma rótula numa brincadeira dessas. Mas a geringonça se justifica pelo lanche. Eu ao menos fico espichando o pescoço, espiando, louco pra que chegue a minha vez. Preciso me conter pra não apontar o dedo e ficar parecendo que minha mãe Teresa não me deu educação.
Em vôo internacional eles servem um sanduba bacana, não tem esse negócio de bolachinha d’água e amendoim. O pão vem com queijo, mortadela e uma batata palha porreta. É tão bom que quando a gente acaba de comer já não se sabe mais o que é obturação e o que é bolo alimentar incrustado nos dentes. Nada que a coca-cola, fanta ou suco de caixinha oferecidos não resolvam com uns bochechos. Bom demais.
Dizem que para quem tem grana a coisa é ainda melhor. Gozado, eu achava que para andar nesses monstrengos tinha que ser ter grana. A queda da qualidade do atendimento deve ser culpa da classe média que com mil reais ao mês anda fazendo festa.
Se o serviço anda ruim, eu não sei, mas acho que já andou pior.
Certa feita eu estava no Galeão esperando um vôo da Transbrasil para Porto Alegre, e um pouco antes de embarcar vi um cara em cima de uma escada enfiado dentro da turbina com um martelo e uma chave de fenda. A moça, sempre ela, me disse que era procedimento padrão, que estava tudo bem. Pensei que procedimento feito aquele era pra dar jeito em Opala e Chevette quando começavam a engasgar. Na dúvida, troquei o vôo.
Bom mesmo devia ser no tempos da Pané.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tchê, nosso guri, imaginamos aqui a sua cara e pensamentos delicados durante essa aventura aérea. A propósito, qual a empresa? Gol não pode ser porque não tinha amendoim e barrinhas de cereal. Beijão!
Thelmo, Ana e Júnior.

Anônimo disse...

Dizem que alguma coisa que os pais ensinam,sempre fica...ainda bem.
Em certos momentos eles vem
à tona.
Um beijo se adivinhar quem
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