
Chove há cinqüenta e três dias. E não é garoa não, é água desabando sobre o mundo. Entre sexta e domingo só faltou chover rã. Os mais crentes reuniram-se em mutirão e trabalharam incansáveis em um transmissor de ondas curtas para contatar São Pedro. E outros, mais crentes e apocalípticos, colocaram as mulheres na reza e foram para o mato cortar madeira de modo a construir uma arca.
Entende-se o desespero. O normal seria cair cerca de cento e trinta milímetros de chuva em trinta dias. Despencou duzentos e dez em dois. Isso sem falar do que já se precipitou nos últimos dois meses. Quem for bom com os números que se arrisque nos cálculos. Só não nos conte o resultado para não causar histeria.
Ninguém mais sabe pra onde correr. Se ficar ela molha, se correr encharca. Estamos no final de novembro e fiquei três dias com a lareira acessa. Em novembro brasa na sala de estar, dá para acreditar? Não é pelo frio, mas para secar roupa. Com uma guria de sete anos e outra com um mês – que me atocharam que ia nascer no verão e ia poder ficar só de fralda na varanda, a coisa fica difícil. É chuva demais. As ruas estão alagadas e intransitáveis, o pátio enlameado, e tem sapato que não acaba mais na área de serviço. Mas pena mesmo tenho da vizinha que mora num quarto com cozinha e goteiras. O cara do telhado esteve ali, subiu, deu de muito esperto, e quando foi embora além de cobrar pelo serviço deixou mais meia dúzia de telhas quebradas.
Mas quem dera os problemas de boa parte dos catarinenses se resumissem a roupas, sapatos nas soleiras e goteiras. Já passa de cinqüenta mil o número de desalojados e de sessenta e cinco o de mortos. Mais de trinta pessoas estão desaparecidas. Morros inteiros estão se deslocando sobre as estradas. Três das principais rodovias do estado estão bloqueadas, incluído a 101. Fora as artérias de menor porte que fazem a ligação entre as cidades. Sete municípios estão completamente isolados com a queda de pontes e barreiras. Ninguém sai, ninguém entra, ao menos enquanto não chegam os helicópteros. Os rios estão invadindo não só o que foram um dia suas áreas de alagamento, ocupadas com o crescimento da região. Estão indo além, varrendo tudo em frente. O Itajaí-Açu, velho conhecido pelos estragos que já causou no passado, principalmente a Blumenau em 1983, voltou a rugir. Casas, prédios, ruas, bairros inteiros estão sob suas águas barrentas. Mães choram filhos soterrados. Pais olham para as águas com os lábios secos.
Milhares de pessoas estão sem água potável, luz, gás, morada. Centenas de escolas e creches estão fechadas. Hospitais transferem enfermos em vez de recebê-los. Correm também o risco de serem engolidos por avalanches de lama. Lojas, fábricas, serviços – o que não está parado funciona precariamente.
E o pior é que pode piorar. Até quarta, embora em menor escala, o aguaceiro persiste impedindo os trabalhos de liberação das estradas e o início da reconstrução de dias melhores.
Foto: Glaicon Covre/Diário Catarinense/Ag
Entende-se o desespero. O normal seria cair cerca de cento e trinta milímetros de chuva em trinta dias. Despencou duzentos e dez em dois. Isso sem falar do que já se precipitou nos últimos dois meses. Quem for bom com os números que se arrisque nos cálculos. Só não nos conte o resultado para não causar histeria.
Ninguém mais sabe pra onde correr. Se ficar ela molha, se correr encharca. Estamos no final de novembro e fiquei três dias com a lareira acessa. Em novembro brasa na sala de estar, dá para acreditar? Não é pelo frio, mas para secar roupa. Com uma guria de sete anos e outra com um mês – que me atocharam que ia nascer no verão e ia poder ficar só de fralda na varanda, a coisa fica difícil. É chuva demais. As ruas estão alagadas e intransitáveis, o pátio enlameado, e tem sapato que não acaba mais na área de serviço. Mas pena mesmo tenho da vizinha que mora num quarto com cozinha e goteiras. O cara do telhado esteve ali, subiu, deu de muito esperto, e quando foi embora além de cobrar pelo serviço deixou mais meia dúzia de telhas quebradas.
Mas quem dera os problemas de boa parte dos catarinenses se resumissem a roupas, sapatos nas soleiras e goteiras. Já passa de cinqüenta mil o número de desalojados e de sessenta e cinco o de mortos. Mais de trinta pessoas estão desaparecidas. Morros inteiros estão se deslocando sobre as estradas. Três das principais rodovias do estado estão bloqueadas, incluído a 101. Fora as artérias de menor porte que fazem a ligação entre as cidades. Sete municípios estão completamente isolados com a queda de pontes e barreiras. Ninguém sai, ninguém entra, ao menos enquanto não chegam os helicópteros. Os rios estão invadindo não só o que foram um dia suas áreas de alagamento, ocupadas com o crescimento da região. Estão indo além, varrendo tudo em frente. O Itajaí-Açu, velho conhecido pelos estragos que já causou no passado, principalmente a Blumenau em 1983, voltou a rugir. Casas, prédios, ruas, bairros inteiros estão sob suas águas barrentas. Mães choram filhos soterrados. Pais olham para as águas com os lábios secos.
Milhares de pessoas estão sem água potável, luz, gás, morada. Centenas de escolas e creches estão fechadas. Hospitais transferem enfermos em vez de recebê-los. Correm também o risco de serem engolidos por avalanches de lama. Lojas, fábricas, serviços – o que não está parado funciona precariamente.
E o pior é que pode piorar. Até quarta, embora em menor escala, o aguaceiro persiste impedindo os trabalhos de liberação das estradas e o início da reconstrução de dias melhores.
Foto: Glaicon Covre/Diário Catarinense/Ag